
O maior desejo do homem é amar e ser amado, por isso, o seu maior medo é ser rejeitado. Ou não ser aceite pelo que é. Desta realidade nascem as defesas, os preconceitos, as barreiras e os muros altos e intransponíveis que tantas vezes erguemos à nossa volta e que distorcem a comunicação.
«Compreender não é concordar. Eu não tenho nada que concordar com o que a pessoa fez, ou deixa de fazer. Também não tenho nada que lhe lançar à cara uma frase seca e acabar a conversa sem mais, dizendo: «Fez muito mal!» ou «Fez muito bem!».
Posso concordar ou discordar das ideias. Agora, em relação às pessoas, o que importa é compreendê-las. Não sei se há algo mais exigente do que procurar compreender uma pessoa.
Compreender é então para Alberto Brito, sj, transmitir ao outro: «Podes ser tu, diante de mim. Não precisas de ser outra pessoa, nem precisas de te defenderes de mim, porque eu não sou teu juiz»
(…)O exercício de compreensão não é fácil, mesmo nada fácil. Exige um grande trabalho interior, que não se vê a olho nu e cujos efeitos não se percebem imediatamente. Mas é o que mais vale a pena. Caso contrário, as pessoas fecham-se, enquistam-se, defendem-se (…).
Outra coisa a fazer é estabelecer fronteiras claras, limites para a partilha dos nossos sentimentos: « Nem tudo é para se dizer. Há coisas que tenho de aprender a dizer e a digerir apenas para comigo. Posso sim, aqui e ali, pedir ajuda e tentar falar com uma pessoa em quem tenho confiança sobre algo que me atormenta. Isso, sim, pode ajudar muito, não para que essa pessoa resolva, mas para que me ajude a lidar com o que cá vai dentro….A estratégia que sugiro - admitir, relacionar, relacionar- faz a pessoa crescer em verdade, desanuvia o seu anterior, dá-lhe liberdade na sua actuação».
Sobre a negação dos nosso próprios sentimentos Alberto Brito, sj, fala-nos ainda de Freud e daquela comparação de fecharmos uma criança mal comportada na cave, quando nos está a moer o juízo.«Deste modo, fechada, já não nos vai incomodar. Durante algum tempo até podemos sentir um certo alívio, porque deixamos de ouvir a criança gritar, mas quando fechamos duas, três, quatro crianças na cave, elas às tantas não só gritam como começam a bater nas canalizações da água e, em pouco tempo, fazem um tal chinfrim que se ouve na casa toda. E isto é difícil de suportar…A negação provoca uma tal poluição no nosso ecossistema, uma tal confusão e opressão que os dois ou três sentimentos que queremos a todo o custo fechar na nossa cave passam a ser o nosso absoluto. E vemo-nos dominados exactamente por aquilo que queríamos eliminar em nós…». Bem, e muito, muito mais haveria a dizer sobre este livro que se vai saboreando…
Obrigada às minhas companheiras de Palmela!