Não resisto à tentação de escrever sobre este livro e sobre o seu autor, o Valter Hugo Mãe.Este foi o meu primeiro contacto com um livro dele.Já tinha lido algumas crónicas, mas o que verdadeiramente me chamou a atenção foi a entrevista que deu à Judite de Sousa em Agosto último.Claro que o fenómeno Paraty já tinha sido extraordinário e indiciava para mim, que não o conhecia, qualquer coisa de novo.Voltando então à entrevista , fiquei verdadeiramente embasbacada, surpreendida.A humildade esmagadora, a simplidade.Aquele tipo de pessoa existe muito pouco, pensei eu!Família simples, muito grande, muitos afectos, figuras muito presentes e assumidamente importantes, sem rodeios.
E depois, o seu percurso individual, o facto de nunca ter pensado que seria possível alguém como ele, ali de Caxinas, chegar a Paraty ou ao mundo...
E, nesta altura, respirei fundo e pensei que tenho que escrever alguma coisa sobre o único livro que tinha lido do VHM.
Não pretendo escrever qualquer crónica literária nem nada do género:só o que me apetece, o que me vai na alma sobre o livro.
Tinham-me dito que era duro.E trata-se realmente de uma realidade muito dura, o envelhecer.Mas o envelhecer, ali, aparece-nos de formas tão diferentes e tão espantosas.Sem levantar muito a cortina, o lar «feliz idade» vai reunir um conjunto de amigos, mostrando a uns e a outros ( e a nós) que, até à partida, tudo é possível, aqui.Três momentos diferentes do livro:
-a saudade : «...e disse, um dia essa saudade vai ser benigna, a lembrança da sua esposa vai trazer-lhe um sorriso aos lábios porque é isso que a saudade faz, constrói uma memória que já não dói e que lhe traz apenas felicidade, a felicidade de ter partilhado consigo um amor incrível que não pode mais fazê-lo sofrer, apenas levá-lo à glória de o ter vivido, de o ter merecido...».
- a perfeição, imperfeição e finalmente humanidade da nossa personagem, confronta-se com a sua realidade presente e com as idiossincrasias do seu passado: «...Salazar foi como uma visita que recebemos em casa de bom grado, que começou por nos ajudar, mas que depois não quis mais ir-se embora...até que nos tirou das mãos tudo quanto pôde e nos apreciou amaciados pela exaustão...tudo era para que não praticássemos cidadania nenhuma...tudo contribuía para essa cidadania de abstenção.»
E para acabar, Deus:«deus é a cobiça que temos dentro de nós.é um modo de querermos tudo, de não nos bastarmos com o que é garantido e já tão abundante.como se não fosse suficiente tanto quanto se nos põe diante durante a vida.queremos mais, queremos sempre mais, até o que não existe nem vai existir».
Concluo, sem deixar de referir que o livro tem descrições hilariantes, pensadas de forma magistral!É muito,muito bom. A não perder.
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